Turismo

Madonna e o turismo: estudo de caso

Por voltas das 2h da madrugada de domingo, o trânsito na altura da estação Siqueira Campos, da linha do metrô carioca, estava parado. Não é figura de linguagem: nada sobre quatro rodas ou mais se movia enquanto uma verdadeira multidão ocupava as ruas e calçadas.

Quase todos queriam voltar para casa, uma vez que as filas para entrar na estação eram quilométricas. O pequeno grupo ali na van comigo também queria descansar, mas, paralisados, debatíamos a questão mais importante da noite: quem mais, senão Madonna, poderia oferecer um espetáculo como o que a gente tinha acabado de ver?

Na discussão acalorada, a atriz Dira Paes, seu marido o diretor de fotografia Pablo Baião, e o filho adolescente deles; o gestor cultural Alê Youssef; uma velha conhecida dos tempos da TV Globo, pessoa forte no show business, que me acompanhava. Só palpites poderosos.

Beyoncé, claro, tem o poder, mas pouco mais da metade do tempo de carreira de Madonna. Taylor Swift enlouqueceu as massas com seu brilhante Eras Tour, mas suas multidões estão na casa dos cinco dígitos, bem distantes do 1,6 milhão que Madonna levou a Copacabana.

Os Rolling Stones, num show que eu mesmo apresentei em 2006 bateram 1,5 milhão… mas repetiriam o feito? No elenco brasileiro, quem? Anitta? Ivette? Bethânia e Caetano, que causaram uma corrida aos ingressos de sua recém-anunciada turnê?

Como aquele infame power point, todos os balões apontavam para um único nome no centro da imagem: Madonna. Só pude concordar.

Li nesta mesma Folha que o retorno que a movimentação de sua passagem com a turnê Celebration por aqui está calculado em R$ 300 milhões. Isso sem contar o benefício extra de estampar um largo sorriso no rosto de todo mundo que estava lá.

Mesmo quem estava bem longe do palco principal foi contagiado pelas vibrações dessa mulher de 65 que parece causar o mesmo arrepio e provocar o mesmo fascínio (e a mesma indignação) há 40 anos! E com uma energia que eu, aos 61, invejei.

Como você, ouvi todo tipo de comentário. De transformador a mágico, de catártico a libertador, todos os elogios cabiam lá —e deixavam pequeno aquele predicado que um público mais obtuso preferiu eleger para, num ato de desespero, criticar: satânico.

A última vez que vi alguém se referir assim a um artista que passava pelo Brasil foi em em abril de 1974, quando uma vizinha da minha avó, ao saber que ela tinha deixado eu ir (acompanhado) ver Alice Cooper, insinuou que a minha querida avozinha tinha pacto com o Coisa Ruim.

Wanda, que era fã de Michael Jackson e morreu lamentando para este neto que sua saúde não lhe permitiria ver a anunciada estreia solo do artista no Brasil (1993), estaria rindo de quem não aplaudiu Madonna em Copa. Eu acho que as duas tinham muito em comum.

Somos, desde lá do Alice Cooper, depois Queen, Rock in Rio e tanta coisa que ainda veio, uma escala cobiçada de turnês importantíssimas. E a dimensão deste lugar conquistado no cenário do turismo mundial é gigante. E não vamos perdê-lo.

Não enquanto esses artistas incríveis vierem trazer mensagem positivas e de união. Afinal de contas foi da própria Madonna que ouvi no sábado, no ritmo de Pretinho da Serra e jovens percussionistas (e Pabllo!), que a música aproxima as pessoas.

Num outro hit que ela ficou devendo desta vez, “Open Your Heart”, eu aprendi que o importante é você abrir seu coração.

E eu tenho certeza de que depois de um show como esse, mesmo quem acompanhava de longe a tragédia no Rio Grande do Sul se sentiu ainda mais generoso para então ajudar nossos irmãos gaúchos.


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